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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A noite em que você me distraiu

Naquela festa eu fui sem vontade, cansada, fui convencida a ir.
Precisava tirar dos ombros o peso da semana, ver pessoas, não ser mais um robô na multidão.
Ele fixou em mim os olhos, insistente luz azul, fez minhas pernas tremerem durante alguns minutos.
Aproximou-se, as mãos suadas, minhas e dele, quatro mãos dançavam , conquistavam um novo território.
Depois o telefone insistia em não tocar, não tocou, não tocou, tocou!
Era engano.
É, acho que ele morreu...



-Paula Marina-

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Atração Intensa

Moonique adorava olhar a Lua, deitava na areia para olhar o seu satélite. Quase que religiosamente, todas as noites era aquela visão que a deleitava. Aquela gota de leite no universo, branca, luminosa, um convite.

A lua exercia um campo gravitacional tão intenso sobre ela que se sentia atraída paulatinamente noite após noite.

Uma vez Moonique descobriu um programa diferente: em suas noites sem atmosfera, passou a deitar na sua gotinha de leite e admirava aquela circunferência azul vibrante, inatingível, um convite.


-Paula Marina-


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ponto Final

     Era um casal já idoso, muitos anos de casados, 12 filhos. O filho mais novo estava com 22 anos e não imaginavam que a cegonha os visitaria outra vez. A incrível décima terceira gravidez, uma mistura de alegria e tristeza. Claro que um filho é um filho, então deviam se alegrar, mas seu Pedro não escondeu a decepção, já estava velho, não se sentia mais capaz de passar por tudo aquilo outra vez.

    Um bebê naquela casa! Quem diria? Por isso ele disse que o nome da criança seria Ponto Final. Isso foi o assunto da família, do bairro inteiro, melhor dizendo, de toda cidade. "Quem já se viu um nome desses pra uma criança?" Dona Amélia dizia, mas não adiantou, para seu esposo esse filho teria que ser o último. Durante a gravidez ele evitou tocá-la, ela se sentia muito triste, chegou a confessar para as amigas que esse desprezo a matava aos poucos, o seu sofrimento parecia não ter um ponto final, foram nove meses de reticências.

    E o nome? Qual será o nome do menino?" perguntava Amélia, "Ponto Final, eu já disse, esse filho tem que ser o ponto final" dizia Pedro. Ele não mudou de humor , nem de opinião.

     Naquele fim de tarde Amélia estava sozinha em casa e sentiu as primeiras dores, telefonou para seu marido, mas por azar ele esquecera o celular em casa, sua filha mais velha veio ajudá-la depois de muitas horas de sofrimento, não dava mais tempo para fazer o parto num hospital, o bebê teria que nascer ali mesmo.

     Ela foi valente, aquela dor reticente havia terminado.

    Quando seu Pedro chegou em casa, seus 13 filhos choravam pela vida daquela mãe que naquela tarde teve o Ponto Final.


-Paula Marina-

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O dia em que ela chegou

Ele chegou cansado do trabalho, falava pouco, só o indispensável. Reclamou da comida que estaria salgada, quase não tocou no prato.
Eu lhe perguntei o que era, disse-me que não era nada.
Pela manhã, minhas malas estavam prontas, ele não teve coragem de dizer na noite passada, mas era para eu ir embora.
Não sei o que senti, talvez eu também quisesse ir, mas não sabia. Nunca soube o que queria. Ele a esperava pela manhã, ela viria, eu sairia. Peguei minhas malas, desci as escadas e vi subir uma mulher, era ela.
Tive vontade de parar, contar-lhe do sofrimento, da dor, da espera.
Calei, dei-lhe a oportunidade de sofrer o que eu sofri.
Boa sorte a ela.

-Paula Marina-

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Manhã de setembro


         Em setembro ele chegou. Sem camisa, estava suado e com as mãos cheias de flores. Lindo.
        Olhos castanhos dourados como o sol de fim de tarde, trazia girassóis, minhas flores preferidas, eu estava na janela e vi quando ele passou e entrou na casa dela.



-Paula Marina-

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fuga









ele desceu as escadas com pressa


ela dormia


não acordaria jamais.


Paula Marina

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Os sapos ainda continuam fazendo propostas às princesas...


Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:
- Eu, hein?... nem morta!
Luís Fernando Veríssimo

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O dedo



Um homem pobre encontrou-se com um antigo amigo em seu caminho. Ele tinha o poder sobrenatural que o permitia fazer milagres. Como o homem pobre se queixava das dificuldades de sua vida, seu amigo tocou com o dedo um ladrilho que imediatamente se transformou em ouro. O milagreiro ofereceu o ladrilho de ouro ao pobre, porém este se lamentou de que isso era muito pouco. O amigo tocou um leão de pedra que se transformou em um leão de ouro puro e presenteou ao seu amigo pobre. Porém ele insistiu que os dois presentes eram pouca coisa.

-Que mais você deseja, pois? – Perguntou-lhe surpreendido o fazedor de prodígios.
-Eu queria o teu dedo! – respondeu o outro.

FIM

(Feng Meng-lung)